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Rafael Hanuman



VINÍCIUS DE MORAES ANTOLOGIA POÉTICA
OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO

Como podia, um operário em construção

Comprrender que um tijolo valia mais que um pão?

Tijolos, ele empilhava, com pá, cimento, esquadria

Quanto ao pão ele o comia
MAs fosse comer tijolo...


E assim o operário ia

Com suor e com cimento

Erguendo uma casa aqui

Adiante, um apartamento
Um quartel, uma prisão

Prisão que sofreria
Não fosse, eventualmente, um operário em construção.


Mas ele desconhecia
Esse fato extraórdinário:

O operário faz a coisa

A coisa faz o operário

De forma que certo dia

À mesa, ao cortar o pão,

Foi tomado, de súbita emoção

Assombrado, ao constatar

Que tudo naquela mesa, garrafa, prato, facão,

Era ele quem os fazia

Casa, cidade, nação

Tudo o que existia era ele quem o fazia

Um operário que sabia exercer a profissão.



Foi dentro da compreensão

Neste instante solitário

Que tal sua construção

Cresceu também o operário.



E um fato novo se viu

Que a todos admirava:

O que o operário dizia,

Outro operário escutava.



Notou que a sua marmita era o prato do pratão

Que a sua cerveja preta era o uísque do patrão

Que seu macacão zuarte era o terno do patrão

Que o casebre onde morava era a mansão do patrão

Que os seus dois pés andarilhos eram as rodas do patrão

Que a dureza do seu dia, que sua imensa fadiga

Era a noite amiga do patrão



O operário via as casas

E dentro as estruturas

Via coisas, objetos

Produtos, manufaturas


Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão


E em cada coisa que via

Misteriosamente havia

A marca da sua Mão.


E o operário disse: Não!



Loucura, gritou o patrão

Não vês tudo o que te dou eu?


Mentira! Disse o operário:

Não podes dar-me o que é meu.
VINÍCIUS DE MORAES ANTOLOGIA POÉTICA VINÍCIUS DE MORAES ANTOLOGIA POÉTICA

(ANTOLOGIA
POÉTICA)

Por que tens?

Por que tens olhos escuros?

E mãos lânguidas, loucas e sem-fim..

Que paixão fez-te os lábios tão maduros.

Em um rosto de criança, assim..


Quem te criou tão boa para o ruim?

E tão fatal para os meus versos duros?

VINÍCIUS
DE
MORAES VINÍCIUS DE MORAES ANTOLOGIA POÉTICA
(ANTOLOGIA POÉTICA)
VINÍCIUS DE MORAES ANTOLOGIA POÉTICA
SOL

Aqui descansa o Sol


Que criou a aurora
E deu luz ao dia

E apascentou a tarde



O mágico pastor

De mãos luminosas

Que fecundou as rosas
E as despetalou


Aqui jazz o Sol
O andrógino meigo

Violento

Que possuiu a forma de todas as mulheres

E morreu no mar



Não te vira cantar sem voz, chorar

Sem lágrimas

E estrelas desencantar

E, mudo recolhê-las

Para lançá-las fulgurando ao mar?


Não te vira no bojo secular

Nas praias desmaiar de êxtase

Entre abismos do luar?




Para lavar os olhos de impostura

De uma vida que cala, inconseqüênte

Arrancada da carne intransigente

Pelo trágico amor à criatura.
CÂNTICO

Não, tu não és sonho, és existência

Tens carne, tens fadiga, tens pudor

No calmo peito teu.. tu és a estrela

Sem nome, és a morada, és a cantiga de amor




CONTRIÇÃO

Como criança que vagueia o canto

Ante o mistério da amplidão suspensa

Meu coração é um vago de acalanto

Berçando versos de saudade imensa.




MARINHA

Na praia de coisas brancas

Abrem-se, às ondas cativas

Conchas brancas

Coxas brancas


Águas vivas.




POÉTICA

De manhã escureço

De dia, tardo

De tarde anoiteço

De noite ardo.


Outros que contem

Passo por passo:

Eu morro ontem

Amanhã eu nasço.
VINÍCIUS DE MORAES ANTOLOGIA POÉTICA
ROSA DE HIROSHINA
(musicada por Ney Matogrosso em Secos e Molhados)

Pensem nas crianças, mudas, telepáticas

Pensem nas meninas cegas, inexatas

Pensem nas mulheres rotas, alteradas



Pensem nas feridas como rosas cálidas

Da rosa de Hiroshima, estúpida, inválida

A rosa com cirrose, a anti-rosa, atômica


Sem cor

Sem perfume

Sem rosa, sem nada




TRECHO

Quem foi que pulou meu muro

E minhas rosas colheu?

Quem foi, perguntou o CCelo

E a flauta falou: Fui eu


Mas quem foi, a flauta disse
Que no meu quarto surgiu?

Quem foi que me deu um beijo

E em minha cama dormiu?


Quem foi que me fez perdida

E me desiludiu?

Quem foi, perguntou a Flauta

E o velho CCelo sorriu

< VINÍCIUS DE MORAES ANTOLOGIA POÉTICA
BALADA DAS MENINAS

Quero ser vosso poeta

Óh! Transitórias estátuas

Esfuziantes de azul

Loiras com peles mulatas

Princesas da zona sul:

As vossas jovens figuras

Retesadas nos selins

Me prendem, como seres puras

Em redondilhas afins
Que lindas são vossas quilhas

Quando, as praias, aboradais

E as nervosas pantorrilhas

Na rotação dos pedais:





Que douradas maravilhas

Bicicletai, bicicletai

aos ventos do Arpoador

Solta, a flâmula agitada

das cabeleiras em flor

Uma correndo à gandaia

Outra séria, com jeito de séria

Mostrando as pernas sem saia
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